A Vida Acontece o Tempo Todo



18 de outubro de 2019





A vida é a qualquer hora, a vida acontece o tempo todo.
Assim como a construção do vínculo entre pais e filhos.
Muitas vertentes da parentalidade ou pessoas que acreditam ter a certeza absoluta das coisas, escrevem e ditam regras sobre onde quando e como nasce o vínculo entre pais e filhos. Defendem que esse portal se abre somente no parir e no amamentar. Desconhecem outras fontes de criação do amor e escrevem ou dizem tantas "inverdades" (acredito eu que baseadas nas suas verdades, mas meus caros: verdade tem tantas versões) que acabam criando culpas em pessoas que vivem e viveram outras coisas, diferente das delas.
Me assusta um pouco a quantidade de "especialistas" que andam a se formar, há especificidade para quase tudo nessa vida, me deixa confusa se de fato podemos nos transformar em especialista emocional em uma formação de dois dias, não quero desmerecer nada e ninguém, são questionamentos muito singulares.
Para além de se pensar que o vínculo já se dá automaticamente no nascimento do filhos, penso que ele é construído. 
Nossos filhos nasceram longe, nós, os pais nem sabíamos o que estava acontecendo no dia do nascimento de cada um. Nasceram nossos filhos a nossa revelia, como pode os filhos nascerem sem que os pais saibam? A minha resposta aborda justamente o poder e a força do vínculo construído. A nossa história juntos iniciou assim e sabíamos que o vínculo parental se construiria e se fortaleceria a partir da nossa convivência. 
A gestação ou a espera por um filho é muito significativa, sem dúvida, mas o fato de apenas parir ou ser mãe e pai não nos garante vínculos de qualidade, precisamos do desejo de tê-los, precisamos buscá-los. E fazemos isso no dia a dia, num toque, numa escuta, num diálogo e até num silêncio.

Nosso filhos não chegaram sozinhos, havia uma história com eles, havia a deles e a nossa, havia os teus e meus que precisavam se transformar em nossos e em nós, nós e todos os outros. O jeito foi misturar as vidas, as nossas e as deles, sem desrespeito àquilo que foi vivido antes desse encontro, sempre acreditamos que eles não precisavam se curar de nada e nós tão pouco, era só um novo começo e ninguém precisava se curar de ninguém. Deixávamos nossa filha falar, se quisesse, sobre o que tinha vivido até ali, pois a mudez guarda sótãos inteiros.
Eles estavam chegando ao desconhecido, mas queriam muito chegar. E nós somos tão gratos a essa chegada-nascimento, foi como se disséssemos sim para a vida e déssemos permissão para ela continuar num novo fluxo, o do amor. Era imenso o que já havíamos vivido, e mesmo o amor, as vezes, ignora uma imensidão de coisas, mas nós não podíamos ignorar. Estávamos todos vivendo uma transformação, um deslocamento corpóreo e emocional. Era externo e interno, tínhamos que rever crenças, verdades e afirmações que antes cabiam, agora não mais. Ouvir, falar, se deslocar, se pronunciar, não sustenta a mudança, o que sustenta é vivê-la. Precisávamos todos nos autorregular e entender que cada indivíduo dessa nova família era único e como tal iria agir no mundo, sem comparações, sem tabelas de desenvolvimento, a propósito, sobre o desenvolvimento da nossa filha, até seus três anos, não sabíamos nada: como foi sua chegada ao mundo, quanto pesou e mediu. Validávamos seus sentimentos e ela validava os nossos e isso nos configurava mãe e pai da filha. 
O amor se alargava e nos unia, fortalecia em nós a unidade. Nos entregamos a cada momentinho feliz que descobríamos juntos, não queríamos guardar momento de felicidade, ao guardá-lo corremos o risco de estreitá-lo, gostamos todos nós da imensidão, do agigantamento e da força que um sentimento bom pode ter, não somos do tipo que vai vivendo aos poucos, gostamos mesmo é da intensidade. Vivemos a maternidade e a paternidade com entrega. O topo mais alto é o que dá mais medo, mas é de onde enxergamos mais longe e no qual a gente fica mais pequeno. Foi e é nessa intensidade e entrega que construímos nossos laços, nossos vínculos. 

As vezes seguro os olhos abertos, mesmo morrendo de sono, porque a filha me conta uma coisa que ela julga de extrema importância; revezamos a guarda numa noite de febre; ficamos os dois acordados zelando pela melhora de uma infecção de garganta; falamos dos nossos sentimentos e dos nossos limites para nossos filhos;  os escutamos ativamente; os abraçamos e beijamos com amor; fazemos coisas juntos; os respeitamos; validamos seus sentimentos; os cuidamos. Eles sabem que não são apenas os pais que se doam, acreditamos sim,  que os pais os protegem, os cuidam, os orientam, doam seu tempo e seu amor para construir laços importantes e definitivos para que seus filhos sejam adultos mais confiantes, seguros, resilientes,corajosos e amorosos, mas acreditamos também que os filhos exercem importantes papeis na edificação das relações parentais, e para nós é fundamental que em suas fases de desenvolvimento adequadas, eles adquiram consciência da importância do seu papel e das responsabilidades na construção do vínculo, é amor, respeito, escuta, comunicação respeitosa, entre outros sentimentos que são maiores e mais significativos justamente porque são mútuos.
Não me parece que só em ter filhos já nos tornamos aptos a sermos bons pais, é uma jornada longa de erros e acertos, de aprendizado e dedicação, como é também de cansaço e culpas, de imperfeição e conquistas, se dar conta disso já é um passo significativo para o caminho do meio, o caminho do equilíbrio.
Ninguém salvou ninguém de nada, os primeiros dias foram basicamente felizes, não ignoramos a saudade que, as vezes, ela sentia dos pais biológicos, não seguimos alheios ao desamor que eles haviam vivido, a desesperança que principalmente ela tinha em relação ao mundo. Tentamos criar rios e correntezas para essa desesperança ir embora, não evitamos os cantos escuros que vez ou outra sentíamos que ela visitava, a pegávamos pela mão e enfrentávamos aquele escuro juntos.

Penso que sempre precisamos de um outro para irmos além de nós mesmos, foi isso que nossos filhos fizeram, nos levaram além, e acho que fizemos isso com eles também.  O início dessa história foi ora mansidão, ora turbulência, ora tristeza e ora alegria, um sentimento completando o outro. Teve muita fala e muita escuta, e teve silêncio, era também no silêncio que nos conhecíamos, que iniciávamos uns nos outros. O silêncio não matava nenhuma palavra, ele as completava, ele falava para dentro. 
Eu aprecio o silêncio, acho coisa de fácil entendimento, eu costumo interpretá-lo bem, já errei feio, mas em geral o entendo, acho que aprendi lá na infância, quando me soube e me senti amada sem que  me falassem “eu te amo”, o silêncio foi a minha língua mãe, e nele também construímos vínculos, porque as palavras eram substituídas por ações. Me sinto de verdade honrada em saber ouvi-lo. 

Penso que se a gente tentar usar palavras para traduzir o que o silêncio diz corremos um sério risco de nos perder, é tentar dizer o indizível. Ouvir o silêncio é aprender a ler os sentidos todos do corpo.s palavras saem de nós feito roupas já usada, o acontecer nos veste por dentro.

Tentamos ensinar aos nossos filhos que há qualidades humanas a serem aprendidas durante a vida, e que o amor e a construção sólida de uma arquitetura emocional  empática é capaz sim de suprir necessidades antes não supridas, acreditamos que esses estados amorosos e respeitosos dão espaço e solidez a uma forte vinculação. 
A empatia nos permite perceber as referências internas do outro, os sentimentos e as emoções que o habitam, e apesar de podermos perceber tudo isso ainda temos a consciência que se trata do sentimento dele e não nosso, o que nos cabe fazer é nos importarmos. 




Pela minha história, pelo que percebo, pelo que sinto, vivo e acredito, a qualidade e a fortaleza dos vínculos são construídas nas vivências e experiências que acontecem nas relações, e isso pode se dar independente dos fantasmas do passado, independente da forma como nascemos. O que nos ajuda a regular melhor nossas emoções internas, desfazer nós e criar laços com os olhos e peito abertos para o presente e para o futuro são as relações que construímos, não posso acreditar que só o parir nos defina, ou que a forma como fomos nutridos seja nosso destino. 
Não enxergo coisa mais linda do que construir o vínculo com nossos filhos lhes ensinando os sons dos pássaros, os nomes das árvores, contando histórias dos artistas mais importantes do mundo ou fazendo pão a quatro ou oito mãos.
A vida é a qualquer hora, a vida acontece o tempo todo.


Rosane Castilhos

Nosso Tempo e Nossa Massinha de Modelar



8 de outubro de 2019






Tempo, tempo, tempo, tempo, sem dúvida o bem mais precioso da atualidade, sentar, parar, olhar olho no olho, escutar, conversar, ficar em silêncio se for preciso, brincar, fazer morada no outro, colocar reparo na vida e em tudo o que nos rodeia.
Me dei conta, a tempo, de que o tempo com os meus é o que de melhor posso dar a eles.
Um tempo em que de verdade estejamos juntos, em sintonia e conexão. Sem correria ou pressa e muito menos em busca de resultados, apensa JUNTOS.
Tempo também é escolha, nós temos condições de dominá-lo de alguma forma, na verdade nós que damos ritmo e rumo a ela, cada um do seu jeito e dentro das suas possibilidades, mas ainda assim escolhemos o que fazer com ele.

Uma vez me disseram que eu era uma "mãe pinterest" e "com tempo". Na época só entendi a parte do "com tempo", a pesar de saber que meu tempo não é privilégio, mas conquista diária. Só mais tarde soube que usavam essa expressão de "mãe pinterest" para nomear uma mãe que fazia trabalhos manuais com os filhos. Não sou uma mãe pinterest, sou mãe, sou mulher, sou artista, sou curiosa e amo fazer coisas manuais e caseirices, com os meus ou sozinha. Não quero essa carga que a tal "mãe pinterest" tem em fazer tudo perfeito, quero o prazer de fazer e criar com quem amo, sem compromisso com o acerto.

Então, fizemos mais uma vez nossa própria massa de modelar, sem pressa, sem acordo com a perfeição, mas com o desejo e a vontade de dar certo e nos divertirmos, e ainda mais: com a vontade de ficar pero da natureza e criar com seus elementos. Desta vez testamos uma massa que vai ao fogo e o resultado ficou muito bacana. Também usamos os pigmentos naturais com plantas, flores, pós... como já fizemos outras vezes.


      



                                         


Fizemos nossos corantes à base de plantas, vegetais cozidos, etc. Usamos a água tingida no lugar da água comum que vais na receita da massinha. O objetivo é manter o processo simples e sustentável. Ao invés de comprar os ingredientes os criamos.

RECEITA:

Ingredientes para os corantes naturais:
Duas xícaras de água para cada cor
ROSA: meia xícara de beterraba picada ou ralada
VERDE ESCURO: uma colher de spirulina
VERDE CLARO: um punhado de espinafre (depois de fervido, esmague ou macere bem antes de coar)
AMARELO: uma colher de sopa de açafrão em pó
AMARELO BEM CLARINHO: um punhado de flores de ipê amarelo
AZUL: uma xícara de repolho roxo
MARROM: café preto passado

E por aí a fora, pode-se criar uma gama enorme de cores conforme sua criatividade.

Preparo dos corantes:

Coloque a água numa panela e conforme a cor adicionar os ingredientes citados anteriormente. Deixe ferver um pouco e retire do fogo e deixe esfriar.
No caso da cor marrom use o café coado, se quiser vários tons de marrons (tons de pele) faça um café bem forte, outro com mais água e assim por diante. Se misturar a borra também fica uma massinha bem bonita cheia de pontinhos escuros.
Coe a água das fervuras reserve os corantes líquidos para a receita da massa de modelar.

Preparo da massinha:

Em uma panela misture uma xícara de farinha branca, meia xícara de sal branco, duas colheres de chá de creme de tártaro, uma colher de sopa de azeite e uma xícara do corante já feito (coloque aos poucos, pode precisar de menos ou de mais), misture bem até que os ingredientes estejam bem homogêneos. Coloque a panela no fogão em fogo médio e cozinhe a massa. Mexa sempre até que ela comece a se afastar das bordas da panela. Retire a panela do fogo e deixe a massa esfriar por alguns minutos; depois retire a massa da panela, coloque-a em uma bancada e amasse até obter uma textura lisa e uniforme, se quiser acrescente algumas gotas de óleo essencial, fica maravilhoso!

Agora divirta-se, invente, crie, faça o que quiser com elas, aproveite o tempo.

Para armazená-las guarde-as em potes hermeticamente fechados longe do calor, geralmente elas duram por volta de um mês.
























Temos tentado viver de uma forma mais lenta, longe de tantos compromissos e eventos, temos tentado achar nossa própria medida de tempo. Nem sempre a gente consegue, mas muitas vezes sim e tem sido muito bom.






Depois e durante a feitura da massinha tivemos companhia canina, eles participaram do processo, e a Cacau queria comer a mistura, principalmente a do café. 






Depois das feituras brincar, se rolar, pular, correr, viver...






Sempre me "alimentei" (corpo e espírito) da natureza, ela sempre foi meu melhor lugar no mundo, mas depois da chegada dos filhos isso se agigantou ainda mais.












Agradeço tanto por ter esse tempo, ou por fazer ele existir, porque o tempo tem disso também: a gente o faz, ou talvez a gente o escolha..








Feliz em escrever aqui, no meu tempo. Obrigada pela acolhida!



Rosane Castilhos


Cozinha, lugar sagrado - Receitas



4 de outubro de 2019




Oi gente, estou tão feliz em ter voltado para o blog que as postagens estão aflorando com fluidez, sem dias marcados ou datas específicas, elas têm nascido naturalmente.







As vezes passo um turno inteiro  na cozinha, e o melhor de tudo: com muito prazer! Ora com os filhos e o marido, ora sozinha, gosto das duas formas, depende o dia.

Cozinha é lugar sagrado aqui em casa, todo mundo mora nela longas horas. Eu amo cozinhar, cresci no meio de receitas e fazeres da minha mãe (a melhor cozinheira do mundo). Acho que só a arte vem antes do cozinhar entre as coisas que amo fazer como ofício-amor. 
Faço de tudo: almoço, lanche, bolo... e tem dias que faço coisas mais especiais ou mais "demoradas", organizo os grão e os cereais, esterilizo os vidros para as conservas, higienizo as tábuas de corte (outro dia conto como). 
Se o turno fora a tarde, passo um café para mim e para o Enzo. Ele entra e saia da cozinha, me ajuda, sai de novo, brinca lá fora, corre e chama: manheeee, e lá vou eu, entre filho e cozinha. Corro com ele e com a cachorrada-amor, volto, faço mais alguma coisa, depois ele chama de novo, eu beijo, acolho, dou bronca. E assim a tarde que escolhemos cozinhar acontece. 
O dia passa, sem perfeição e facilidades, tudo são conquistas, sem grandes eventos.

Ontem o frio voltou em pleno outubro, depois veio a chuva e tivemos que nos recolher, nossas tardes dentro de casa passam mais lentas, estudamos, brincamos, assistimos um filme e quase sempre vamos para a cozinha, isso acontece nas manhãs também, daí temos a presença da filha, que ama fazer parte dessas coisas. 

Nas tardes durante a semana, geralmente, passamos só eu e o filho, depois a Raquel chega e os dois se põe a brincar, surgem conflitos, mas a paz e o amor quase sempre prevalecem. Depois o marido-pai chega e assume a limpeza das feituras na cozinha, ainda bem, porque se não for desse jeito não conseguimos fazer tudo o que gostamos de fazer.

Hoje quero contar das nossas feituras com essa fruta incrível: o coco.
Fazemos leite de coco, coco ralado e farinha de coco, tudo em um só processo, e ainda dá para fazer a gordura. Essas receitas mudam a vida da gente, acreditem! Saudável, sem açúcar ou conservantes, e muito mais em conta do que se pagaria num mercado.

Eu amo coco, além de ser um  super alimento é saudável. 
O coco é muito rico em duas gorduras: o ácido láurico e o monolauril. Essas gorduras são de rápida digestão, ao contrário de outras, não ficam depositadas nas células, e servem de combustível para o nosso organismo gerando energia.
Com a gordura ou o óleo de coco, fazemos cremes, xampu em barra e sabão, entre outras coisinhas, mais uma promessa: outro dia conto como. 

Bom chega de história e vamos as receitas.

Leite de coco: quebrar um coco seco (cada um tem seu método), tirar toda a polpa, deixar os pedaços de molho em água morna por cinco minutos (700 ml de água se o coco for de tamanho grande e 500 ml se o coco for de tamanho médio para pequeno), depois liquidificar por uns 3 minutos o coco com a água do molho. Coar todo o líquido, eu prefiro fazer isso num saco de algodão cru, mas pode ser feito em um coador. Depois de bem escorrido, guarde o líquido em garrafas e pode armazenar na geladeira de quatro a cinco dias, dá pra consumir como um leite delicioso e sem lactose ou em receitas que você queira. Pode ser congelado se desejar, nunca congelei, mas sei que pode.








    A polpa que sobra pode ser usada em inúmeras receitas, assim como o coco ralado que se compra no supermercado, só que com a vantagem de ser fresco, natural, sem adição de nenhum outro ingrediente químico ou manipulado, é alimento vivo!
    Já fiz biscoitos, recheios de bolo, docinhos, farofa, bolo e iogurte com essa polpa (outro dia mostro aqui).






    Dá pra fazer a  farinha de coco e  usar em tudo: bolos, pães, doces, biscoitos, panquecas, comer com frutas, com iogurte e tudo o que você puder imaginar. Super simples gente, é só colocar essa polpa numa frigideira ou panela grande e mexer por uns vinte minutos, deixar esfriar e armazenar, ela dura uns três meses fora da geladeira. Eu gosto de usá-la grossa, mas se preferir depois de cozinhá-la pode passar tudo num processador e ela ficará mais fina ou com a textura que quiser. 
    A minha ficou assim, nessa foto coloquei-a dentro da casca do coco e servi na mesa com iogurte, achei que ficou linda.







    E tem mais, as cascas depois podem virar brinquedos e instrumentos musicais!!

    Ó só que maravilha, com um coco que em média custa quatro a cinco reais a gente fez tudo isso.
    A farinha de coco no mercado é bem cara e não podemos jurar sem cruzar os dedos que ela realmente seja pura, já a que fazemos em casa temos certeza de sua pureza e mais que isso, ela carrega a etiqueta de: EU, VOCÊ, NÓS FIZEMOS. 

    Por aqui usamos verduras, frutas, legumes, grãos e outros produtos orgânicos, mas isso não é regra e nem obrigação de ninguém. Consumir orgânicos é super bacana, mas dá para priorizar de maneira sábia o que realmente vale a pena ser consumido na rede dos orgânicos, nãos poderíamos "elitizar" a alimentação, os orgânicos são sem dúvida a melhor ótima opção, mas infelizmente ainda é mais caro,  nem tudo pode ser orgânico para a maioria da população devido ao seu valor. Por aqui fazemos a lei da compensação, compramos orgânicos, por outro lado não gastamos em um monte de outras coisas que achamos supérfluo, mas é uma escolha nossa e não cabe  exigir que todos pensem como a gente!

    No mais a vida segue e tem muitos caminhos para se encontrar uma alimentação saudável, afetiva e feliz. 



    Abraço meu com uma felicidade gigante de estar de volta a esse lugar.



    Rosane Castilhos

    Pão-Amor (receita)





    2 de outubro de 2019





    Por aqui fazer pão é coisa sagrada, dessas que assumem um caráter de ritual da família, vira memória em textura, cheiro, cor e sabor, além de muito afeto. Trago todas essas lembranças da minha infância, sempre via minha mãe fazer pão, espera chegar os sábados (dia de faxina e pães caseiros). A casa tinha um aroma de cera em pasta que era passada no chão e de pão que assava no forno, nunca, em tempo algum esqueci desses cheiros, espero que eles fiquem vivos em mim para sempre.
    Então memória afetiva com essa força toda fez morada em mim o desejo de fazer pão também, fazia antes de casar, junto da minha mãe, depois de casada e de ter minha própria casa continuei fazendo, e até aperfeiçoei, hoje além dos pães que aprendo com a minha mãe faço outros e também os de fermentação natural.
    E mais que isso, hoje em dia tenho mais mãozinhas na massa do que antes e isso enriquece os pães e a nossa vida.

    Penso que tudo isso também é uma forma de revolução, das mais amorosas do mundo. estar presente, fazer coisas que se ama fazer, ser o que se quer ser. estar no lugar que se quer estar, sem atravessamentos ou atravessadores, sem culpa, sem preocupações se estávamos mudando o mundo todo, porque estávamos criando um mundo bom ali, entre a gente, edificando emoções, aprendendo juntos, descobrindo um novo jeito de comer pão (uma combinação ainda não experimentada). sabemos que tudo isso se refletirá em algum tempo, lugar e vidas. estamos mudando tantas coisas, transformando outras.
    Enfim, eu sou muito feliz em poder observar e estar presente na vida dos meus filhos dessa forma, seja fazendo pão ou lhes ensinando filosofia, música, arte. ou ainda lendo livros, escrevendo o meu, pintando minhas ilustrações. nenhuma coisa anula a outra. me assusta um pouco algumas pessoas acreditarem que sim.
    SOMOS MUITOS.  O preconceito que existe em torno de pessoas que escolhem viver dessa forma nos afasta. Lugar de mulher, homem e criança é onde eles quiserem. Ora dando palestra, ora estendendo roupas, ora cuidando dos filhos (se tiver), ora cuidando de si mesma, ora brincando, ora descansando, ora passeando, ora dentro de casa, ora fora, ora fazendo pão, ora fazendo revolução.














    Olha para essa massa crescendo e sempre enxergo tanta coisa nela, uma vez minha filha disse que parecia um planeta...




    Hoje vou compartilhar a nossa receita de pão com farinha branca e de fermentação química, não é o meu mais amado, mas é o queridinho da turma daqui. Essa receita é da nossa família, da minha mãe, é o mesmo pão que eu fazia quando era pequena, mas naquela época usava açúcar cristal comum e sal branco.

    Ingredientes:
    1 k de farinha de trigo, 1 colher bem cheia de fermento biológico seco, 1 colher de sopa de açúcar (eu uso o demerara ou o mascavo), 1 colher de chá de sal (uso o do himalaia), leite o suficiente para dar o ponto (em média de 300 a 400ml), 1 colher de gordura (eu uso banha ou manteiga, mas pode ser azeite, óleo de coco ou outro óleo), 1 colher de creme de leite fresco, por aqui chamamos de nata (opcional).


    Preparo:
    Coloque a farinha num recipiente grande, misture bem o fermento, o açúcar e o sal, depois a colher de gordura e a nata, coloque o leite esquentar (não ferver) e o acrescente aos poucos na massa, sovando-a ainda dentro do recipiente. Quando ela estiver num ponto que desgrude dos dedos, mas não dura, passe para uma bancada e MÃO NA MASSA!! O segredo para o pão ficar macio é sová-lo bem. 
    Depois disso coloque a massa de volta no recipiente, cubra com algo que a mantenha aquecida. Deixe descansar e crescer por mais ou menos uma hora e meia a duas horas. Sove a massa de novo, mas por menos tempo e com delicadeza, forme os pães e coloque-os em formas untadas. Costumamos i com um pouco de farinha, mas isso é por que achamos que eles ficam ainda mais bonitos!
    Espero que acertem e gostem, qualquer coisa me perguntem.

    Outro dia vou colocar aqui a receita do pão integral e depois dos de fermentação natural.

    Até mais gente!









    Muito feliz em escrever nesse lugar que é minha morada da escrita para o mundo.

    Rosane Castilhos

    Desejo de Retornar





    30 de setembro de 2019





    Tenho sentido a necessidade e o desejo de andar mais devagar.
    Alguém lembra quando precisávamos ir até o local de trabalho para começarmos a trabalharOu quando a gente não era encontrada a qualquer hora do dia? Lembram dos correios, das cartas escritas a mão? de quando se conversava e até se fazia amigos numa fila de espera ou numa sala de um consultório?
    A gente se olhava mais, percebia o outro com mais clareza e interesse. Nosso olhar não era atravessado por um dispositivo ou pelos ecrãs. 
    Tenho sentido muita falta desse tempo mais lento e de alguma forma mais silencioso, por isso volto a escrever nesse lugar que foi onde iniciei minha jornada no mundo virtual e onde conheci pessoas que já fazem parte da minha vida há onze anos. 

    Nada contra ao facilitismo da modernidade, dos aplicativos, do bilhete on-line, do Uber, do WhatsApp e do email no telefone, mas eu tenho sentido um desejo gigante de uma vida com mais entrega ao tempo onde a gente fica, permanece de uma forma menos efêmera. 
    Do tempo em que a gente escrevia cartas de amor e saudade e enviava pelo correio aquele papel que podia até ter marcas de lágrimas, não é só saudade, é desejo de viver de forma mais vivida.
    Gosto de verdade de fotos sem edições ou filtros, de uma boa realidade do que somos, de uma conversa sem intenção de curtidas. Não há filtro sobre as memórias que repousam intactas nos álbuns da nossa vida. Tenho sentido saudade de um tempo que não se expunha a vida de forma tão escancarada, de um tempo em que algumas vivências eram sagradas. 

    Todas essas coisas e sentimentos marcam mais do que um tempo ou um momento,marcam uma realidade que nem sempre é registrada numa imagem e que o sentimento não tem delete, que a imagem não tem uma infinidade de chances de ser filtrada. 
    Saramago já prenunciava esse tempo e disse: “Jamais uma lágrima manchará um email.” 

    É por tudo isso que retorno, regresso e a partir de hoje esse será o meu único canal com esse mundo virtual-real. 
    Quero escrever e contar das receitas que fazemos, da nossa horta e do nosso pomar, das feituras que realizamos num tempo que podemos olhar uns nos olhos dos outros sem um dispositivo registrando tudo e confesso que sinto um enorme bem estar, um alívio até, em ter saído do instagram recentemente e do facebook há anos atrás. Não há nada de errado com essas redes sociais, fiz muitos amigos nelas, mas eu preciso e quero experimentar a vida sem tanta efemeridade, talvez eu retorne, não sei ainda, mas por agora quero viver cada momento da vida sem essa pressa que esses canais "exigem".
    Te faço um convite: reativa teu blog, vamos nos reencontrar aqui, num tempo e num lugar que tudo pode ser mais devagar e mais humano. 

    Te espero, muitas coisas acontecerão por aqui, com alma, com entrega e de verdade.


    Rosane Castilhos




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