Tarefa nada fácil preservar e estimular os sorrisos e o brilho nos olhos dos filhos, esse jeito saudável e alargador, além de ser um presente de Deus e do universo, tem o dedo de mãe e de pai, ou melhor, tem o corpo e a alma dos pais. Meus filhos raramente ficam doentes, acho que em 2015 fui apenas uma vez num plantão médico por causa de uma alergia do Enzo... sorte? Pode ser, um pouco, mas são dias e dias de cuidado com a alimentação, com o brincar, com o saber e viver de todos nós.
Caminhamos pela grama descalços, sentimos seu toque suave, seu frescor e esquecemos a trabalheira que deu e que dá para mantê-la assim. O universo, além de prover, ele sopra, mexe, remexe, conspira e nos carrega pra muitos caminhos, não vivemos e nem podemos viver a revelia de tudo, o amor, a força, a união, a felicidade não caem do céu bem encima da gente! Lemos um livro e avaliamos o final, vemos uma bela casa construída e pensamos o quanto deve ser bom e "melhor" viver nela. Enxergamos o lado A da vida de alguém e pensamos: "que P E R F E I T A, como Deus e o universo foram generosos com ela". A gente tem por costume esquecer do caminho e julgar só a chegada... Recebo alguns emails de pessoas que nem conheço pessoalmente, a maioria delas me conhece pelas redes sociais. Antes do final do ano recebi um que me parabenizava pelos filhos, pelo jeito de eu levar a vida, etc e etc. Li umas cinco ou seis vezes a palavra "perfeita", acrescida das palavras vida e maternidade, fiquei pensado nesse "resultado final" da vida que a gente compartilha com o mundo por aqui e por ali. Pois bem, pra se chegar a ele dou conta de muito trabalho, a vida e a maternidade não são perfeitas, mas me trazem resultados felizes, e pra se chegar neles... ah, quanto caminho para percorrer. Fazem três meses que não tenho nem faxineira pra me ajudar com a casa, a minha foi morar em outra cidade, ainda não consegui substituí-la. Eu lavo, estendo, passo, varro, lavo, seco, limpo, esfrego, lavo, estendo, passo, cozinho, limpo outra vez, recolho cocô de cachorro lá fora, organizo brinquedos, organizo papeis, cuido do jardim, cuido do pomar, cuido dos filhos, cuido dos cachorros, cuido de mim,cuido dos outros, cuido da vida... tudo isso com a ajuda do marido (que também trabalha fora). As vezes olho para o cesto de roupas e acho que nunca mais vou conseguir esvaziá-lo, corro atrás dos filhos, tento brincar o máximo possível, ensiná-los os valores importantes, nutrí-los de saberes e de vivências sociais, culturais, artísticas e humanas, todos os dias tem bronca, as vezes bem séria, as vezes nem tanto, e é um tal de: ajunta aqui, guarda ali, pega lá, escuta a mãe, escuta o pai, ESCUTA O OUTRO, escuta a vida, põe reparo nela e em todos que te rodeiam: humanos, animais, vegetais e tais... é bem assim que é o lado B da vida: de LUTA.
Lembro quando mostrei o filho menor comendo sozinho pela primeira vez, uma foto linda, feliz e emocionante, pois é, mas pra se chegar ali foram inúmeras tentativas, com choros, com incentivo, com risos, com bronca, com limpa aqui e acolá, e esse processo continua: ajuntando arroz, farelo e sucos derramados no chão... nada fácil essa maternidade, nada de perfeitos esses pais que choravam juntos por não conseguirem tirar as fraldas do filho que já estava com três anos, sem contar o acompanhamento no processo escolar da filha, nas dores que a infância traz, nas escolhas difíceis que são necessárias, nas horas de sono perdido, na batalha que é educar os filhos para o bem deles, dos outros, para o nosso bem e do planeta, pois é, parece perfeito a mãe fazer pão, comida saudável, correr pra feira as 6 da manhã, cuidar da horta e do pomar, mas há os "entretantos" e são tantos. Há poucos dias fiz picolé de manga, abacaxi e limão, ficaram lindos e deliciosos, todos amaram, fiz com uma afeto enorme e com aquela vontade de ser feliz (necessária pra nos manter vivos), mas lembro de olhar para toda aquela sujeirada na cozinha e pensar: seria bem mais fácil ir ali no Pedro (mercadinho perto de casa) e comprar tudo prontinho, mas não é assim que sou, gosto do fazer, gosto que meus filhos e marido façam, construindo juntos sabemos avaliar melhor e com mais sabedoria o quanto viver conforme algumas escolhas não é tarefa fácil. A vida aqui anda a mil por hora, as vezes o coração tá na boca, as borboletas no estômago, mas outras vezes a lágrima está nos olhos, a dor está no corpo e na alma, é aí que a vida pega, é aí que de verdade faremos a prova, o teste de resistência pra se viver nesse mundo de meu Deus. Aprendi a viver de peito aberto, sem muito descanso, colocando reparo nas lindezas que se manifestam no caminho e tentando driblar as feiuras que fazem parte da nossa condição humana. Sim, eu tenho filhos lindos, bem educados, inteligentes, sensíveis, mas é luta diária tentando passar pra eles o que realmente importa... sim eu tenho uma casa boa, iluminada, feliz, mas é luta diária de acordar cedo e dormir tarde... sim, eu tenho um marido parceiro, amigo e amante, mas é luta diária para manter isso vivo... sim eu amo cozinhar, inventar, fazer pão... mas é luta diária de reinventar tempo pra isso... sim eu crio, pinto, desenho, restauro, construo com e para os filhos ou sem eles e sem ser para eles, mas é luta diária.
Precisei abrir mão de algumas coisas pra me entregar a maternidade, a educação dos filhos e a casa, não me arrependo de nada, não lamento nada, eles estão bem, todos estamos bem, nesse ano volto a fazer algumas coisas que deixei pra trás, e volto mais feliz, com mais bagagem, mais vontade, com mais sabedoria e com mais amor. É isso, a vida tem tantos lados: A, B, C, D, somos muitos em um só, somos o resultado das escolhas feitas por nós e daquelas que nem podemos escolher, só viver... e vivemos tantas coisas: perfeitas ou não, felizes ou não...ainda assim VIVEMOS, não tem outro jeito, eu danço os ritmos que o universo me dá, mas saibam: faço minhas melodias, meu ritmo, luto, luto e luto... não fico aqui sentada esperando a vida passar e me trazer a felicidade numa bandeja de prata! E justamente a maternidade foi um dos processos mais difíceis, foram longos dias de três anos esperando meus filhos chegarem (nascerem).
Feliz tudo pra vocês tudo!