Desejo de Retornar





30 de setembro de 2019





Tenho sentido a necessidade e o desejo de andar mais devagar.
Alguém lembra quando precisávamos ir até o local de trabalho para começarmos a trabalharOu quando a gente não era encontrada a qualquer hora do dia? Lembram dos correios, das cartas escritas a mão? de quando se conversava e até se fazia amigos numa fila de espera ou numa sala de um consultório?
A gente se olhava mais, percebia o outro com mais clareza e interesse. Nosso olhar não era atravessado por um dispositivo ou pelos ecrãs. 
Tenho sentido muita falta desse tempo mais lento e de alguma forma mais silencioso, por isso volto a escrever nesse lugar que foi onde iniciei minha jornada no mundo virtual e onde conheci pessoas que já fazem parte da minha vida há onze anos. 

Nada contra ao facilitismo da modernidade, dos aplicativos, do bilhete on-line, do Uber, do WhatsApp e do email no telefone, mas eu tenho sentido um desejo gigante de uma vida com mais entrega ao tempo onde a gente fica, permanece de uma forma menos efêmera. 
Do tempo em que a gente escrevia cartas de amor e saudade e enviava pelo correio aquele papel que podia até ter marcas de lágrimas, não é só saudade, é desejo de viver de forma mais vivida.
Gosto de verdade de fotos sem edições ou filtros, de uma boa realidade do que somos, de uma conversa sem intenção de curtidas. Não há filtro sobre as memórias que repousam intactas nos álbuns da nossa vida. Tenho sentido saudade de um tempo que não se expunha a vida de forma tão escancarada, de um tempo em que algumas vivências eram sagradas. 

Todas essas coisas e sentimentos marcam mais do que um tempo ou um momento,marcam uma realidade que nem sempre é registrada numa imagem e que o sentimento não tem delete, que a imagem não tem uma infinidade de chances de ser filtrada. 
Saramago já prenunciava esse tempo e disse: “Jamais uma lágrima manchará um email.” 

É por tudo isso que retorno, regresso e a partir de hoje esse será o meu único canal com esse mundo virtual-real. 
Quero escrever e contar das receitas que fazemos, da nossa horta e do nosso pomar, das feituras que realizamos num tempo que podemos olhar uns nos olhos dos outros sem um dispositivo registrando tudo e confesso que sinto um enorme bem estar, um alívio até, em ter saído do instagram recentemente e do facebook há anos atrás. Não há nada de errado com essas redes sociais, fiz muitos amigos nelas, mas eu preciso e quero experimentar a vida sem tanta efemeridade, talvez eu retorne, não sei ainda, mas por agora quero viver cada momento da vida sem essa pressa que esses canais "exigem".
Te faço um convite: reativa teu blog, vamos nos reencontrar aqui, num tempo e num lugar que tudo pode ser mais devagar e mais humano. 

Te espero, muitas coisas acontecerão por aqui, com alma, com entrega e de verdade.


Rosane Castilhos




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