Dona do Meu Tempo... é o que Tento





Numa tarde por aqui,  perfume que se espalhou pela casa me fez querer dividir tudo isso com vocês. Dia de de sol e frio fiz pão de centeio e geleia de damasco, imaginem o aroma dos damascos com laranja e canela fervendo no fogo, imaginem o cheiro bom de pão assando, e pra deixar a vida mais aromática ainda fiz um chá de laranja com canela em pau e cravos da índia... sentiram?

Primeiro fiz parte da massa do pão: 
150g de farinha de centeio
5g de fermento biológico fresco
150ml de água morna
Mistura tudo e deixa crescer por uns 40 minutos.





Depois acrescenta em torno de 150g a 200g de farinha branca, mais 5g do mesmo fermento,  1 colher de sopa generosa de melaço de cana de açúcar ou açúcar mascavo, 1 colher de chá generosa de sal, casca ralada de um laranja média bem lavada (ralar toda a casca da laranja até começar aparecer o branco). Mistura tudo, acrescenta água até ficar num ponto bom para sovar, ela não pode ficar muito dura, o ponto ideal é mole e desgrudando das mãos, se precisar acrescenta mais farinha. Deixa crescer por 1h e meia mais ou menos...







Enquanto isso fiz a geleia de damasco, fácil de fazer e perfuma a casa toda...
A delícia de fazer geleia em casa é que não colocamos conservantes químicos e nesse caso não coloquei açúcar, geleia sem açúcar tem um nome bem lindo: rapsódia... mas quem quiser coloca açúcar tá?! Fica deliciosa também.
Então vamos a rapsódia perfumada: 1 xícara de damascos secos cortados em pedaços pequenos, gostamos assim, mas quem preferir pode bater no liquidificador com um pouquinho de água, 3 xícaras de água, 1 xícara de suco de laranja com os gominhos, mas sem as sementes e uma rama de canela em pau. Os gominhos tem uma função importante: eles liberam uma certa "gelatina"e deixam a geleia mais consistente. Quem optar por colocar açúcar: 3 colheres de sopa generosas. Coloca tudo numa panela e cozinha por 40min, mexendo as vezes.










Tento seguir a vida fazendo do tempo um aliado e não um inimigo, Tarefa fácil? NADA!! Mas sigo a risca o que minha amiga Fernanda Reali me disse uma vez: "temos toda a eternidade para descansar". Enquanto o filho dormia, a geleia cozinhava, o pão crescia, vi toda aquela sobra de laranja que usei para o suco... Fiz um chá delicioso e aromático, ficou muito bom, um pouco amargo, eu amo assim, para não ficar amargo tire as cascas das laranjas, ou melhor, do que sobrou delas. 





Ó a lindeza disso... sente o perfume disso...
e são só: sobras de laranja, canela em pau, cravo da índia, açúcar mascavo ou mel, um pedacinho de gengibre, leva ao fogo para ferver uns 5 minutos. 






Tomei um chá e me reabasteci de energia e afeto com o mimo feito na xícara coisa da minha amiga Bela e o tapetinho charmoso foi carinho dado a mim pela doce Rosana Remor.




O filho acordou, e a geleia já estava pronta, enchi ele de beijos, lhe dei uns brinquedo e coloquei o pão na forma para crescer mais 1 hora, tirei a geleia da panela, esterilizei o vidro com água fervente, coloquei a geleia nele e... fomos ao parque, um pertinho de casa.






Quando voltamos o pão já estava enorme, imaginem só resistir a isso... teve dedinho colocado no pão sim senhor.







Filha na escola, marido trabalhando... pão para o forno, mãe entre lá fora e aqui dentro, mãe e filho a brincar, no meio disso: lavar a louça, secar, guardar com o Enzo por aqui dentro e lá fora com a cachorrada, entre botina e pantufa a vida segue.










Juro que eu queria dividir com vocês um pedaço desse pão, esse aroma... deixaria vocês darem uns beijos nos filhos também, mas por ora dividimos por aqui "pequenas/grandes" felicidades em imagens e palavras.




Não temos uma família perfeita, bem longe disso, temos muitas dúvidas, poucas certezas, como pessoa, mulher, mãe, esposa... tenho mais perguntas do que respostas, mas algumas coisas eu aprendi ao longo dessa vida: nossas escolhas nos revelam, nos definem, tenho escolhido uma vida simples, sem ser simplória, uma vida mais natural do que a que vejo estampada nas lojas, mercados e mundo a fora. Se estou certa? Não sei, mas me sinto feliz desse jeito.



Um beijo do tamanho do mundo pra vocês.
Grata total pelo carinho e respeito.



 




A liberdade



Um vento forte e persistente, mais que nunca, tem soprando dentro de mim, o vento da liberdade, das escolhas além daquelas comuns e habituais e sabe de uma coisa: a gente paga um preço por isso... Escolher criar os filhos longe do consumismo, de tudo aquilo que nos parece ser superficial, optar por uma vida mais simples e mais natural aos olhos de alguns é "demagogia", "naturebismo demais", "isolamento do mundo", "criação de ETs", "geração banana", "bicho grilo" e por aí a fora. Algumas pessoas chamam o Enzo de "tadinho" por nunca, ainda, ter chupado um pirulito, ele só tem três anos, tem uma vida toda pela frente para fazer escolhas... Eles comem doces e "porcarias', as vezes, bem pouco, pois já conversamos sobre todos os malefícios que essas "delícias" trazem pra vida, conversamos também sobre as datas comemorativas como: Páscoa, Natal, Dia das crianças, etc e sua real importância. Tentamos produzir coisas juntos, que depois podem ou não se tornarem presentes, mas a importância é dada ao fazer, ao construir, ao refazer, reconstruir, reaproveitar, reutilizar, doar, e principalmente ao se desapegar do material e se guiar por um sentimento maior, de livre escolha. 
Pesquisando alguns temas sobre a infância um dado me alarmou; "as crianças de hoje são mais fracas do que as de dez anos atrás", devido a sua falta de movimento, sua má alimentação, seu pouco contato com a natureza, entre outras coisas. As escolas de educação infantil têm constatado muitas fraturas de braços, pernas, ossos em geral devido a quedas, o mesmo acontece em casa. Pesquisas revelam que a maioria das crianças de hoje é menos resistente e cansa rapidamente. Essas mesmas crianças têm hábitos alimentares péssimos: refrigerantes, doces, salgadinhos, biscoitos recheados, muito pouco ou nada consomem de verduras e frutas, pouco ou nada se exercitam, pouco ou nada têm de contato com a natureza. Então vou seguindo com minha criação de ETs, dá um trabalho enorme plantar tudo isso, mas a colheita é boa, bonita e possivelmente os envolvidos saberão fazer boas e bonitas escolhas.
Meus filhos são muito parecidos comigo, isso tem sido mais intenso do que eu poderia imaginar, talvez por ter vivido tanto tempo a espera deles, por ter tido esse desejo adiado inúmeras vezes eles chegaram tal e qual o jeito da mãe, numa outra “configuração”... Ou será que essa história é mais antiga? As vezes me pergunto: se já estivemos juntos em outro tempo, se é que esse tempo existiu, se é que houveram outras vidas, não sei... Mas há algo muito forte que me liga a eles, um sentimento que não sei explicar, sei o que sinto: os laços são criados ao longo da vida, independentemente se os "enlaçados" têm algum grau de consanguinidade ou não, há algo maior nessa vida, bem maior, gigante até. 
Em especial, o Enzo, carrega muito de mim, ele é um apaixonado pela terra, pelos bichos, pela natureza e também, feito eu, é meio "bicho do mato", sair é bom, mas voltar pra casa é tão melhor, somos dois caseiros de corpo e alma, gostamos das mesmas coisas, das mesmas comidas, das mesmas músicas, dos mesmos cheiros, colocamos um reparo "exagerado" em tudo que se diz desse mundo, principalmente o "não humano": bichos, árvores, terra, água, fogo, vento, sol, chuva...  e mais: músicas, livros... sim; amamos gente também. Parece que somos o lado de fora, e o lado de fora entra pra dentro, invade a alma e nos transforma,. Nem sei dizer se ele que aprendeu ser assim comigo, ou se fui eu que me descobri mais assim a partir dele.








Ele lida com os bichos de forma tão amorosa, tão "igual", eu também, nos revelamos por completo e inteiro no meio da bicharada, eu me sinto "tão eu" quando estou no meio deles, não uso nenhuma armadura, não corrijo as palavras, me dispo de todos os pudores, amo sem medo. O filho faz igual, me vejo muito nele nessas horas, eu largo qualquer coisa para estar lá fora, os filhos também. 










E esse menino que imita a mãe e fica descalços pelo pomar, pelo jardim, pela horta... anda descalços pela vida.




















O Enzo tem um sentimento de gratidão pela natureza, faz reverências a ela, a mãe também, pode ser um gesto, uma dança, um sorriso, uma palavra, pode parecer qualquer coisa, de qualquer jeito, mas sabemos que é gratidão.











Eu, as vezes, eu sinto que Deus mora nos meus pés, e dessa raiz que emana uma força divina que me conecta com o mais nobre sentimento: o amor, e o amor é oração viva. Sinto que isso acontece com os meus filhos também, depois de correr e brincar descalços, eles ficam com um olhar diferente, uma luz lhes toma e seus abraços ficam mais fortes, me parece que isso é a conexão direta com o sagrado.





Agora de pés descalços por inteiro e acompanhado de sua fiel amiga de quatro patas a Cacau, é a hora e a vez de sentir a energia que brota da terra, parece até que ela entra nas plantas dos pés, circula pelas vias do corpo, chega na alma e acaba num sorriso.






 Hoje, aqui nessa minha caixinha de sapatos virtual, dessas que se guarda lembranças escrevo que: aos 44 anos me sinto tão livre quanto o vento que falei soprar dentro de mim, há tempos eu sei que a liberdade é muito mais do que o direito de ir e vir. Ela é feita de escolhas, escolhas sem culpa, pois os erros virão, mas o amor, a força do agora, a não banalização da vida, a não padronização dos hábitos que ela nos impõe, o respeito à singularidade e a diversidade, a negação aos rótulos e as caixinhas que insistem em nos colocar e o prazer de se sentir livre para escolher serão maiores que a camada grossa e pesada de dúvidas que surgem no meio da vida. Fazer pão, bolo, batata doce assada, sopa de legumes, plantar o que consome, diminuir a lista do supermercado não rasga nossa fantasia do belo, do imaginário, mas nos mostra um passo diferente, um jeito melhor de andar e de dar as mãos. É isso, nos "escrivinhamentos" anteriores falei do "nascimento" da filha e de tudo o que a vida dela representa para nós. Hoje falei tanto do filho... pois é falo, mais deles do que do resto do mundo né? Escrevo textos longos... Talvez seja ela, a liberdade que tenha me dado esse direito.

Um beijo enorme e um abraço demorado.


OUTRAS POSTAGENS