Oi filha, eu estou te vendo




         22 de fevereiro de 2018






Oi meu amor.
Eu estou te vendo, te observando, te escutando, te cuidando mesmo que as vezes minha manifestação mais viva e intensa esteja meio desnorteada.
Tanta coisa aconteceu desde que vocês chegaram que eu nem me lembro como eu era da última vez que estive sem tê-los. Tantas mudanças, tantos devaneios e retomadas de consciência fizeram e fazem parte dessa montanha russa chamada maternidade.
As vezes pareço imersa nos estudos e nas minhas pesquisas sobre o comportamento do seu irmão e de como amenizar "as diferenças", pareço completamente imersa na vida dele, e de verdade estou, mas meu mergulho na sua vida é real e intenso também, talvez no seu mar eu suba mais a superfície, talvez o meu mergulho em ti seja mais fácil ou menos profundo, mas nunca menos amoroso.




Teu irmão te ama tanto, vocês se amam tanto, as vezes fico olhando vocês dois juntos e choro de amor, imagino que não seja fácil pra ti entender que as vezes precisamos sair antes do previsto de um evento porque seu irmão já não tolera mais ficar ali, mesmo assim tu diz SIM e vocês saem juntos, de mãos dadas, porque ele nem imagina te deixar. Eu e seu pai estamos aprendendo a mergulhar no oceano do Enzo, tu já é um peixinho, ele te abraça, faz onda-amor pra te ver nadar junto dele. Obrigada minha filha por tanto amor. 
Eu? Ora estou aqui na superfície, ora estou no fundo do mar das nossas vidas aprendendo sobre nossa existência e tentando trazer a tona tudo de bom que esse mundo nos dá, da mesma forma que tento enfrentar as coisas ruins que surgem porque fazem parte da nossa condição humana.
Nossa vida é tão bonita, somos tão felizes, nos amamos tanto.
Sei bem que as vezes travo uma luta interna e fico meio longe, me deixo levar pela turbulência do mar. Eu sei que cada braçada dada vale a pena, que enfrentar a onda é muito melhor do que deixar que ela me leve, no entanto as vezes preciso ir, sem braçada alguma, só ir... pra depois voltar.  Eu que me acho emocionalmente independente do que os outros pensam e julgam a meu respeito, as vezes, me percebo dando crédito a julgamentos tolos que só fazem doer no peito,  fico desatenta de ti porque me perco nesse devaneio de mudar o mundo conforme o que acredito. Se eu não aprendi, quero muito que tu aprenda: aos outros só podemos levar amor e as mudanças que achamos necessárias se darão a partir desse amor que reverbera e contagia.
Eu, mãe, sempre encho a boca para falar a palavra liberdade, mas exijo sempre que sejam super educados. Sabe de uma coisa: nem sempre dá pra ser, as vezes, só as vezes (risos) a falta de educação nos salva de alguns caldos, de algumas ondas que nos derrubam porque preferimos ser educados como "a mãe e o pai nos ensinaram", ou ainda "como a mãe e pai esperam que a gente seja", na verdade a liberdade mais linda é aquela quando olhamos para nossos filhos e os vemos como outros e não como uma cópia de nóse a pesar das diferenças e por causa delas amá-los mais que tudo. 
Vou tentar não planejar tudo, viver sem tantas preocupações, sem tantos métodos, vou tentar apenas estar ali de corpo e alma e desfrutar a vida junto contigo de forma mais intensa, porque tu recarrega minha energia e me potencializa como mãe, eu escuto muito a voz da minha infância em ti, dou importância ao que a menina que mora dentro de mim me diz, e ela salta de felicidade, faz meu peito vibrar, me movimenta pra estar mais presente e mais brincante contigo. Mas é preciso que saiba, há uma essência em mim que não pode ser iludida ou mascarada, sou essencialmente estudiosa, intensa, mergulho de cabeça no que acho que preciso mergulhar, mas eu volto filha, sem mentiras, sem desculpas, porque se não for desse jeito estarei enganando a mim mesma e estarei mentindo pra vocês e não conheço ninguém que tenha conseguido criar filhos felizes vivendo uma mentira. 
Então, eu prometo estar mais no presente, vivendo cada minuto com entrega, mas as vezes preciso ir lá no fundo, trancar o ar, me esvaziar pra poder voltar a superfície com força, coragem e o mesmo amor de sempre.
Te prometo perder menos tempo com essa mania pretensiosa de mudar aquilo que, por ora, não pode ser mudado, faço isso por acreditar ser essa a via de construção de um mundo melhor pra ti, pro teu irmão, pra todos. Talvez eu faça isso por medo de estar longe no "futuro", fico achando que posso deixar o terreno pronto, sem torrões de dor que são difíceis de arrancar, fico nessa tentativa tola de deixar o mar calmo, de segurar os maremotos que poderão surgir mais tarde. Eu prometo gastar esse tempo e essa energia mais no presente do que num futuro imaginado, porque é o aqui e o agora que poderá garantir pra vocês um ali e lá mais feliz. Não posso te prometer um mar tranquilo, mas prometo me jogar menos na água turbulenta, vou enfrentar só as ondas que nos impulsionarem para uma maré bonita.




Filha estou aqui, sempre estive, mesmo que eu pareça distante (e algumas vezes estou) quero que saiba que um pedaço meu sempre fica perto de ti. Eu nasci pra estar contigo, nos encontramos pra isso. Teu irmão, talvez precise mais de mim (esse talvez é carregado de dúvidas, eu mãe acho que seja assim, mas pode ser que não, pode ser que tu precise muito mais de mim, mas entenda, as mães erram descaradamente achando que estão certas, a gente tem essa coisa do "sentir"), então repito o que não tenho certeza, mas por ora sinto: TALVEZ teu irmão precise mais de mim, por isso olho tanto pra ele, mas meu olhar é teu também, sempre foi. Tu não é um capítulo, tu é o livro todo, tu não é uma onda, tu é também um oceano e eu mergulho em ti com todo o amor que carrego no meu peito desde o dia que tu correu para os meus braços gritando: "chegou minha mãe!". Te amo.


Sua Mãe



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