A liberdade



Um vento forte e persistente, mais que nunca, tem soprando dentro de mim, o vento da liberdade, das escolhas além daquelas comuns e habituais e sabe de uma coisa: a gente paga um preço por isso... Escolher criar os filhos longe do consumismo, de tudo aquilo que nos parece ser superficial, optar por uma vida mais simples e mais natural aos olhos de alguns é "demagogia", "naturebismo demais", "isolamento do mundo", "criação de ETs", "geração banana", "bicho grilo" e por aí a fora. Algumas pessoas chamam o Enzo de "tadinho" por nunca, ainda, ter chupado um pirulito, ele só tem três anos, tem uma vida toda pela frente para fazer escolhas... Eles comem doces e "porcarias', as vezes, bem pouco, pois já conversamos sobre todos os malefícios que essas "delícias" trazem pra vida, conversamos também sobre as datas comemorativas como: Páscoa, Natal, Dia das crianças, etc e sua real importância. Tentamos produzir coisas juntos, que depois podem ou não se tornarem presentes, mas a importância é dada ao fazer, ao construir, ao refazer, reconstruir, reaproveitar, reutilizar, doar, e principalmente ao se desapegar do material e se guiar por um sentimento maior, de livre escolha. 
Pesquisando alguns temas sobre a infância um dado me alarmou; "as crianças de hoje são mais fracas do que as de dez anos atrás", devido a sua falta de movimento, sua má alimentação, seu pouco contato com a natureza, entre outras coisas. As escolas de educação infantil têm constatado muitas fraturas de braços, pernas, ossos em geral devido a quedas, o mesmo acontece em casa. Pesquisas revelam que a maioria das crianças de hoje é menos resistente e cansa rapidamente. Essas mesmas crianças têm hábitos alimentares péssimos: refrigerantes, doces, salgadinhos, biscoitos recheados, muito pouco ou nada consomem de verduras e frutas, pouco ou nada se exercitam, pouco ou nada têm de contato com a natureza. Então vou seguindo com minha criação de ETs, dá um trabalho enorme plantar tudo isso, mas a colheita é boa, bonita e possivelmente os envolvidos saberão fazer boas e bonitas escolhas.
Meus filhos são muito parecidos comigo, isso tem sido mais intenso do que eu poderia imaginar, talvez por ter vivido tanto tempo a espera deles, por ter tido esse desejo adiado inúmeras vezes eles chegaram tal e qual o jeito da mãe, numa outra “configuração”... Ou será que essa história é mais antiga? As vezes me pergunto: se já estivemos juntos em outro tempo, se é que esse tempo existiu, se é que houveram outras vidas, não sei... Mas há algo muito forte que me liga a eles, um sentimento que não sei explicar, sei o que sinto: os laços são criados ao longo da vida, independentemente se os "enlaçados" têm algum grau de consanguinidade ou não, há algo maior nessa vida, bem maior, gigante até. 
Em especial, o Enzo, carrega muito de mim, ele é um apaixonado pela terra, pelos bichos, pela natureza e também, feito eu, é meio "bicho do mato", sair é bom, mas voltar pra casa é tão melhor, somos dois caseiros de corpo e alma, gostamos das mesmas coisas, das mesmas comidas, das mesmas músicas, dos mesmos cheiros, colocamos um reparo "exagerado" em tudo que se diz desse mundo, principalmente o "não humano": bichos, árvores, terra, água, fogo, vento, sol, chuva...  e mais: músicas, livros... sim; amamos gente também. Parece que somos o lado de fora, e o lado de fora entra pra dentro, invade a alma e nos transforma,. Nem sei dizer se ele que aprendeu ser assim comigo, ou se fui eu que me descobri mais assim a partir dele.








Ele lida com os bichos de forma tão amorosa, tão "igual", eu também, nos revelamos por completo e inteiro no meio da bicharada, eu me sinto "tão eu" quando estou no meio deles, não uso nenhuma armadura, não corrijo as palavras, me dispo de todos os pudores, amo sem medo. O filho faz igual, me vejo muito nele nessas horas, eu largo qualquer coisa para estar lá fora, os filhos também. 










E esse menino que imita a mãe e fica descalços pelo pomar, pelo jardim, pela horta... anda descalços pela vida.




















O Enzo tem um sentimento de gratidão pela natureza, faz reverências a ela, a mãe também, pode ser um gesto, uma dança, um sorriso, uma palavra, pode parecer qualquer coisa, de qualquer jeito, mas sabemos que é gratidão.











Eu, as vezes, eu sinto que Deus mora nos meus pés, e dessa raiz que emana uma força divina que me conecta com o mais nobre sentimento: o amor, e o amor é oração viva. Sinto que isso acontece com os meus filhos também, depois de correr e brincar descalços, eles ficam com um olhar diferente, uma luz lhes toma e seus abraços ficam mais fortes, me parece que isso é a conexão direta com o sagrado.





Agora de pés descalços por inteiro e acompanhado de sua fiel amiga de quatro patas a Cacau, é a hora e a vez de sentir a energia que brota da terra, parece até que ela entra nas plantas dos pés, circula pelas vias do corpo, chega na alma e acaba num sorriso.






 Hoje, aqui nessa minha caixinha de sapatos virtual, dessas que se guarda lembranças escrevo que: aos 44 anos me sinto tão livre quanto o vento que falei soprar dentro de mim, há tempos eu sei que a liberdade é muito mais do que o direito de ir e vir. Ela é feita de escolhas, escolhas sem culpa, pois os erros virão, mas o amor, a força do agora, a não banalização da vida, a não padronização dos hábitos que ela nos impõe, o respeito à singularidade e a diversidade, a negação aos rótulos e as caixinhas que insistem em nos colocar e o prazer de se sentir livre para escolher serão maiores que a camada grossa e pesada de dúvidas que surgem no meio da vida. Fazer pão, bolo, batata doce assada, sopa de legumes, plantar o que consome, diminuir a lista do supermercado não rasga nossa fantasia do belo, do imaginário, mas nos mostra um passo diferente, um jeito melhor de andar e de dar as mãos. É isso, nos "escrivinhamentos" anteriores falei do "nascimento" da filha e de tudo o que a vida dela representa para nós. Hoje falei tanto do filho... pois é falo, mais deles do que do resto do mundo né? Escrevo textos longos... Talvez seja ela, a liberdade que tenha me dado esse direito.

Um beijo enorme e um abraço demorado.


5 comentários:

  1. Rosane, que lindo que o Enzo está. grande também! E te entendo quanto ao que sentes. Há pessoas que nos cercam que parecem estar sempre à cata de algo pra "sarnear" os outros! Meu conselho: Não dá bola! Segue o que o teu coração manda e pede e pronto!

    Tudo andará certo e eles estarão com uma bela bagagem pra cair no mundo! bjas, chica

    ResponderExcluir
  2. Rosane, filhos são reflexo daquilo que somos, portanto se exercemos o bem e coisas boas, assim eles serão, com certeza :)
    Que lindo ver o Enzo brincando na terra. Ele certamente sente essa energia vinda dela. Eu sei porque brinquei muito na terra quando era criança, andei descalço pra lá e pra cá. A nossa geração sabia brincar, hehehe
    Bjs e ótima semana para todos vocês!!!

    ResponderExcluir
  3. Oi Rô,
    a maneira da qual vc cria seus filhos é linda.Hoje em dia as crianças são tão tablet, celulares...não querem mais sabe de brincar de pega pega , esconde esconde...esse contato com a terra...um jeito mais simples de se viver...valores implantados...Pode ter um preço agora mas vai valer muito apena no futuro.Bjos

    ResponderExcluir
  4. Oi Rosane, deixe que falem, que pensem, eu sempre fui criticada por cuidar demais, mas eu não me vejo pondo os filhos no mundo e achar que o mundo dita as regras. Quem ama cuida, protege, ensina, e temos que respeitar isso. Faça o que seu coração de mãe mandar, ele nunca erra. Um beijo grande em vocês! A felicidade mora nesses rostinhos!

    ResponderExcluir
  5. Bom dia amiga querida!
    Tenho minhas convicções e acho que a história de vocês é mais antiga sim, assim como a nossa (^_^)
    Achei muito lindo o "tão igual", em relação ao Enzo e os bichos - dá uma sensação de unidade com o Criador!
    Engraçado, ainda não tenho filhos e não sei quando eles chegarão, mas penso em todas essas coisas, no modo de criar meus futuros filhos e identifico-me muito com o teu jeito e modo de pensar.
    Não acho que teus textos são longos, pois quando começo a lê-los, não quero que acabem, pois entro nesse mundo singular que tanto me encanta e tenho vontade de nunca mais sair dele!
    Te desejo um final de semana cheio de muitos beijos, abraços, pé no chão, pão quentinho e principalmente com os mais lindos e iluminados sorrisos de Enzo, que até parece terem todos os segredos das melhores coisas da vida neles!
    Mil bjos
    Léia

    ResponderExcluir

Comente sobre:

OUTRAS POSTAGENS